sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Dora Doralice


Doce Dora Doralice
Imensidão no olhar
Cabelos de algodão
De sol a sol a malhar
A doçura se espalha
É que tem mel seu rezar

Sua  gaitada ecoava
Nos campos ressequidos
A plantar e a pescar
A voz doce e os gemidos
Era um enlevo pra alma
Contra prantos ressentidos

Quantos  filhos gerou?
Sem muito pra oferecer
O que esperava deles
Se não de dor perecer?
A feira, terra, a pesca
De onde tiravam o comer

 Muitos conheciam Dora
Por aqueles secos campos
Suas rezas e benditos
Soltos por todos  os cantos
Mulher de riso largo
Nunca aos desencantos

As sertanejas fortes
E essas são numerosas
Do céu escolhem uma estrela
Dos filhos são zelosas
Cuidam da terra e sorte
As Guardiãs prestimosas

As paredes da  casa
Eram forradas de santos
Nem cheguei a aprender
Os nomes, pra meu espanto
Ali, seu santuário
Tinha magia e canto

Oh ! Dora Doralice
Mulher mais encantada
Sempre de bem com a vida
Longa sua gaitada
O azul do mar nos olhos
Seguia sua estrada

Guardava em seu baú
Lembranças e nenhum mal
Ia pro Juazeiro
Rezar e coisa e tal Na fé e na oração
Tinha a força vital

Se trabalhava a terra
Ou tecia algodão
Ouvia-se  o  canto
Por toda a vastidão
Pelas terras desertas
Parecia um furacão


 Trabalhando a dureza    
Como fosse um novelo
A partir desse, teceu
Um bonito modelo
Rezava  na região
Seguia sem atropelo

O eco da esperança
Saia pela garganta
Ladainhas e mantras
Faziam dela uma santa
Tecia redes, pescava
O almoço e a janta

Aprendeu o bem viver
Conhecia o ensejo
De buscar dentro do rio
Fazia muito gracejo
Curimatã e piabas
Sentia por eles desejo

Seus castelos de ventos
Minha,bendita tia
Se  batia a dureza
Ficava cinza seu dia
Depois da tempestade
Voltava a alegria

Desejo de alimento
Sua mesa tão pobre
Ser sertaneja feliz
Ter espírito tão nobre
Só uma mulher encantada
Transforma o barro em cobre!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário