sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Como Emília

Como Emília de retalhos coloridos
Crio em mim, uma mulher menina
Sagaz, inocente? Incoerente!
Como não me reinventar,
Em pedaços coloridos de vida,
Tal Lobato inventou sua boneca preferida
Gosto de bonecas. Quase não as tive
Apenas uma,  única , de silicone
Era estática, braços e pernas sem mobilidade
Engessada, e vestia uma calcinha de babadinhos brancos
Mas era de silicone.Seu nome, Lili.
Assim, também todos os gatos na infância,
Chamavam-se  Mimi
Quando me acusam de estar com mi mi mi
Aborreço-me, pois   Lili, Mimi
São partes que compõem a mágica
Da fantasia infantil na mulher madura!

EdiMaria*/2016

Billing”s

Autoras  EdiMaria & Carmem Moraes
Música classificada entre as finalistas do festival de musica do Bom Motivo/SP / 1994


Billing’s  ao longe
Olho és um espelho
E por que tal fantasia acontece à tua luz?
Billing’s  és vida, pinta natureza morte
Resultado incoerente
De um  progresso  que te aborta

A indústria enche
De comodidade
A vida da gente
E a sociedade, sem pensar o mínimo
Em ter o cuidado
De zelar da mãe, terra agoniada*
É verdade, matamos  juntos
Nossa propriedade!!

Na beira da lagoa o lixo se produz
Urubus e garças, garças lixo, urubu

Peixe  vivo ,agonizando
Peixe morto, horripilante
Quem é que os ajunta?
Quem é que os induz ?
Na beira da lagoa o lixo se produz....



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

VEVA - Autora Verônica Moraes


Assunto é fé. Exatamente aquela que não se aprende ou se apresenta em forma alguma. Invisível em seu centro duro e majestosamente linda na sua profunda superfície, onde moram coragem de crer e medo bestial. Fé no terço, Buda, no Espírito Santo, em Iemanja, na força da lua, Oxalás, Chisna. São Jorge. Simbolicamente construídos a partir do invisível. Invocação da alma, que num momento extremo de amor se materializa em colo, conforto, segurança. Nunca houve dúvida da hipnose que sofro alegre em fé. Creio como escovo os dentes todos os dias, diversas vezes. Crer nessa espiritual atmosfera de símbolos e ausências, riem meus amigos cético, é não creditar suficiente poder a mim mesma. Heis que divido assim as glórias de certas conquistas com o supremo invisível, que se manifesta em água azul morna do mar, em abraços de amigos, em estrela cadente, em filosóficas risadas. Fé, que seja estupidez, que seja redenção, é assunto primeiro no escuro calado de nós.


Verdade que mensuramos absolutamente tudo. Do sofrimento ao sucesso, ao status, á saúde. Tudo matemática pura para situar/avaliar estágios ou mesmo modelos. Padrões prontos, agora é só classificar. Pena que mesmo na matemática, evitemos ou não, há as terríveis variáveis para o desassossego da estabilidade do padrão. E padrão é tudo que não defendo. Não compreendo. Se somos cromossomos únicos, digitais individuais, como poderíamos seguir - Leia imitar - o outro? Mas sou deveras radical no empenho de romper.
Acontece que visto roupa velha, macia, manchada e cuido da terra com as unhas cheias de areia. Trabalho todos os dias e ando descalça para o espanto e desaprovação de uns, que amam a austera padronagem mais que a franca cara liberdade.
Serei condenada á liberdade? Serei vítima dessa imprudente mania de rir dos modelos do esperado?
Serei eu até o fim? Bendito seja o batom carmim, o salto 15 e a calça jeans.
Não espero de mim a erudição nem completo silêncio. Não espero pouco, sabe? No entanto, aprendo lentamente a esperar



Dia desses, afobada com tantas pequenas e grandes coisas a fazer, essa lista de tarefas tem reprodução mitocondrial, deparei com um pensamento rebelde, tão indomável que atormentou o suficiente para me fazer escuta-lo. Ele dizia: "vá descansar". Assim, bem simples como se fosse possível. Acreditei. Chocada com minha resignação, percebi que oferecemos descanso e "modelo de vida".
Descobri exausta!! Lembrei de uma conversa com meu Paulo Andre Bione
exatamente sobre isso.
Por favor amores, descansem sempre 

Elegia de Mulher Contemporânea


sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Dora Doralice


Doce Dora Doralice
Imensidão no olhar
Cabelos de algodão
De sol a sol a malhar
A doçura se espalha
É que tem mel seu rezar

Sua  gaitada ecoava
Nos campos ressequidos
A plantar e a pescar
A voz doce e os gemidos
Era um enlevo pra alma
Contra prantos ressentidos

Quantos  filhos gerou?
Sem muito pra oferecer
O que esperava deles
Se não de dor perecer?
A feira, terra, a pesca
De onde tiravam o comer

 Muitos conheciam Dora
Por aqueles secos campos
Suas rezas e benditos
Soltos por todos  os cantos
Mulher de riso largo
Nunca aos desencantos

As sertanejas fortes
E essas são numerosas
Do céu escolhem uma estrela
Dos filhos são zelosas
Cuidam da terra e sorte
As Guardiãs prestimosas

As paredes da  casa
Eram forradas de santos
Nem cheguei a aprender
Os nomes, pra meu espanto
Ali, seu santuário
Tinha magia e canto

Oh ! Dora Doralice
Mulher mais encantada
Sempre de bem com a vida
Longa sua gaitada
O azul do mar nos olhos
Seguia sua estrada

Guardava em seu baú
Lembranças e nenhum mal
Ia pro Juazeiro
Rezar e coisa e tal Na fé e na oração
Tinha a força vital

Se trabalhava a terra
Ou tecia algodão
Ouvia-se  o  canto
Por toda a vastidão
Pelas terras desertas
Parecia um furacão


 Trabalhando a dureza    
Como fosse um novelo
A partir desse, teceu
Um bonito modelo
Rezava  na região
Seguia sem atropelo

O eco da esperança
Saia pela garganta
Ladainhas e mantras
Faziam dela uma santa
Tecia redes, pescava
O almoço e a janta

Aprendeu o bem viver
Conhecia o ensejo
De buscar dentro do rio
Fazia muito gracejo
Curimatã e piabas
Sentia por eles desejo

Seus castelos de ventos
Minha,bendita tia
Se  batia a dureza
Ficava cinza seu dia
Depois da tempestade
Voltava a alegria

Desejo de alimento
Sua mesa tão pobre
Ser sertaneja feliz
Ter espírito tão nobre
Só uma mulher encantada
Transforma o barro em cobre!!

Acesse!!Conheça!!!Aprecie!!!!Comente!!!





A poetisa e cordelista EdiMaria recomeçou sua trejetória artística como cantora.

Lançado em Outubro de 2015,seu primeiro CD entitulado "Anjos da Seca",é composto por 7 músicas de crônicas musicadas, todas elas de cunho autoral.

Você pode conhecer e apreciar as músicas através desse site:


Catarina e Firmino




Nos casamentos da roça
Isso foi há muito tempo
O costume era cobrar
A “quota“ ao mais contentes
Dançar, girar pela sala
Viver os bons momentos

Primeiro o dono da festa
Oferecia os petiscos
Farofa, galinha ou peru
Colocando a fome em risco
Depois do vinho, do bolo
Ninguém mais ficava arisco


A partir daquele instante
O quarto se tornava o bar
Os dançarinos com sede
Passavam a bebida comprar
Sem geladeiras na roça
Era atrás do pote bebida pra gelar



Depois do viva aos noivos!
O trio começava a tocar
O povo fazendo pirueta
Se via a saia rodar
Alguns contavam pabulagem
Aqui, só eu sei dançar


Se a moça era chamada
Pra dançar aquela “parte”
E negasse ao cavalheiro
Dançar, mostrando sua arte
Até a próxima música
Ficava curtindo o descarte


Pela madrugada a dentro
O povo ocupava o terreiro
Molhavam o piso de barro
Era aquele aguaceiro
Dai continuava a festa
Até a música derradeira



La pela madrugada
A criançada com sono
Deitava formando fileira
Ali no maior abandono
Os pais caiam na dança
Na dança ninguém tinha dono


Já pra os enamorados
A noite passava ligeira
Ao amanhecer do dia
Iam pra baixo da mangueira
Chupar mangas tão doces
Até causava zonzeira


O tempo passava e juntos
Construíam uma dinastia
Filhos, netos e bisnetos
Tinham uma certa fidalguia
Quando o sol não esturricava
E tinham um invernia



Os cilos então se enchiam
A roça explodia em festa
Muitas verduras e frutas
Não tinham comida indigesta
O ano corria feliz
Voltavam a brincar sem arestas


Os anos passavam velozes
Sentiam-se realizados
Cada um com suas rugas
Todos os filhos criados
As novas gerações assumiam
Com orgulho o “cajado”


Fechando essa história
É válida uma reflexão
Família é viga mestra
Para haver sustentação
De uma boa sociedade
Perpetuando a criação




Poesia para reflexão - Simone Beauvoir







“A impressão que eu tenho é de não ter
envelhecido, embora esteja instalada
na velhice, o tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou prá mim.
Provisoriamente, Mas eu não ignoro as
ameaças que o futuro encerra. Como também
não ignoro que é o passado que define a minha
abertura para o futuro. O meu passado é a
referência que me projeta e que eu devo
ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo
o meu saber e a minha ignorância, as minhas
necessidades, as minhas relações, a minha
cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado
deixa para minha liberdade hoje?
Não sou escrava dele.
O que sempre quis, foi comunicar da maneira
mais direta, unicamente, o sabor da minha
vida. Acho que consegui fazer.
Não desejei nem desejo nada mais do que
viver sem tempos mortos“.
                                         Simone Beauvoir